Para aquele meu primeiro amor

Quando eu penso em você, eu sinto pressa.
Eu sou uma pessoa sem muita pressa e você sabe disso. Deixo tudo pra última hora, vivo um dia de cada vez, faço as coisas no meu tempo, que é sempre preguiçoso, com música, cheio de risada, piadinha, e com nenhuma cara séria. Acho que tenho um pouco de mania de querer controlar o tempo, mas do meu jeito. Nasci de fórceps, e se não me tirassem de lá na marra, teimosa que sou, provavelmente teria passado da hora.

Mas com você é diferente. Você me causa pressa.
Eu sei que já cheguei aos 30 e tudo o que você quer pra mim, eu quero também, mas vou fazer cada uma das minhas escolhas com carinho e cuidado, para não me machucar, porque a gente sabe que machucado de amor dói, e mesmo que tenha cura, são machucados que endurecem um pouco a gente, e coração de pedra não combina muito comigo.

Com você, a minha pressa é outra. Eu quero ter dois filhos, e vou tê-los na hora que tiver que ser. Você vai ver que na hora certa, você vai poder brincar de ser avô.
Eu quero que você me leve até o altar, quero que você ensine meus filhos a fazer todas as coisas erradas que você me dizia para não fazer, quero que você coloque neles todas as manias que o vovô colocou em mim. Eu quero que você esteja lá para que as minhas memórias não faltem nenhum pedacinho. Mas a vida vai acontecendo como tem que acontecer.

Eu sei que sou refém do tempo, todos nós somos, porque não sabemos se amanhã o sol vai nascer, se estará chovendo, ou se simplesmente estaremos respirando. E quando eu falo de você, que já tem PHD em coração descompassado, eu fico com uma pressa de viver tudo. Correndo, atropelado, de uma vez e às vezes, a pressa nos faz tomar decisões erradas e eu não quero mais isso. Eu já perdi as contas de quantos acordos fiz com o mundo, para não te tirar de mim, porque temos tanta coisa pra fazer juntos ainda.

Se eu pudesse controlar o tempo, eu pararia ele em cada almoço de família, em cada abraço que você me dá, em cada piada que você conta, eu pararia o tempo na sua risada, que me faz rir também, porque eu acho que ainda não aprendi a ter o coração do tamanho do seu. E enquanto eu puder controlar o tempo, eu vou insistir pra você se cuidar, para ter mais atenção com a sua saúde, com seu coração… Vou insistir em te pedir para que você queira ver a minha vida, com a mesma força e vontade que eu quero que você esteja nela.

Então, cuida da sua saúde, cuida de você pra mim, porque eu não posso te amarrar pelo braço e cuidar de você como eu gostaria de fazer.

Esse ano foi difícil pra mim, como eu nunca imaginei que seria. E você, como o pai protetor que é, fez o que qualquer pai faria: Cuidou de mim. Eu sei que se você pudesse, colocaria suas meninas em potinhos de vidro, e as deixaria guardadas na estante, como se fossem duas bonecas. Mas acontece que você criou duas meninas danadas, que não tem medo de enfrentar o mundão. E mesmo que isso te deixe com o coração na mão, o máximo que você pode fazer, é também o que melhor sabe fazer: Cuidar da gente e abrir o braço pra gente correr pro abraço quando precisar. E a gente precisa, sempre. E a gente corre, mesmo quando não precisa.

Então cuida de você, que você estará também cuidando de mim, do nosso futuro, da nossa história que ainda queremos escrever.

Obrigada todos os anos por existir, mas esse ano, obrigada por me ajudar a lembrar quem eu sou, porque eu realmente havia esquecido.

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