Eu tinha 13, você tinha 15.
Você me obrigava ouvir a música de abertura do Jaspion, sempre que eu ia na sua casa. Na versão japonesa. Sempre. Eu gostava de Jaspion, mas você tinha certeza de que era o próprio Jaspion.
Daí a gente cresceu e você se tornou o promoter das festas mais esquisitas da pequena São Caetano, como quando você quis fazer um churrasco, mas a grana só dava pra comprar linguiça, ou quando você ligou uns vídeo games na cozinha e fez a festa dos games. A gente fazia festa, quando não era nem pra ser festa, mas de repente começava a chegar gente, e aí aumentávamos o som, e então virava qualquer coisa muito parecida com uma festa. Mais uma, para a infelicidade dos seus vizinhos.
De lá pra cá, a gente mudou só a idade, mas de resto, tudo continua igual. Mesmo que você esteja em qualquer país e eu continue aqui. Ainda somos os maiores fãs de Green Day e Ramones, e os piores motoristas da sociedade.
Quando você está por aqui, promove o caos na minha vida, como quando me chama para uma pescaria no meio de uma tarde de quarta-feira, enquanto eu estou lá, vivendo a vida adulta no escritório. E mesmo depois que eu tento te convencer de que meu chefe não gostaria nem um pouco da ideia, a sua melhor barganha para a minha falta no trabalho, é sempre de que eu preciso aprender a subornar meu chefe com uma tilápia.
Você me mostra todo dia, que mesmo estabanada, eu tenho jeito. E que você, não tem jeito nenhum.
A gente se ama e se odeia na mesma intensidade, e isso faz com que a distância crie uma saudade tão grande e tão louca, que 1 hora ao telefone, parecem só 5 minutos.
E foi assim que eu enfrentei o trânsito ontem de manhã, que estava caótico, como sempre está. Logo cedo, com uma ligação de Bali, com você dizendo que estava morrendo de saudades de mim. E uma conversa despretensiosa, que terminou com a decisão irrevogável de comprarmos uma ilha e chamá-la de Ilha das Maritacas. Tudo isso porque fazemos planos impossíveis pra ajudar a matar saudade que às vezes aperta. E por fim uma despedida do jeito que a gente sempre faz: Com um “te amo, amigo”.
Eu torço para que vocês tenham amigos que melhorem o seu trânsito, mas torço mais ainda, para que vocês tenham amigos que melhorem a sua vida, como eu tenho.